03/07/2010

“A gente durmimo” no quentinho

Uma familia extremamente necessitada recebeu um presente anônimo às vésperas do inverno.  Quem intermediou a ação foi uma enfermeira que conhecia as redondezas.
O volume foi entregue logo pela manhã, antes que a mãe saísse de casa e deixasse, como sempre, as três crianças pequenas trancadas no minúsculo cômodo em que viviam.  Talvez não fosse a melhor opção, mas quem mora em uma área carente da Baixada Fluminense não pode se dar ao luxo de deixar os filhos soltos pelas ruas.
Em meio à surpresa matinal, os embrulhos foram abertos rapidamente pelos três. Havia pacotes coloridos com cobertores novos, brinquedos, pares de meias, chocolates. Chocolate era uma preciosidade para eles. A cada fita desenrolada, gritinhos de contentamento.  A alegria se estendeu até a noite.
No dia seguinte, saindo de casa, a enfermeira bateu à portinha do barraco e olhou pela janelinha o rosto das crianças.  O caçulinha, ainda deitado ao lado dos irmãos, já estava acordado.  Seus grandes olhos de jabuticaba brilhavam enquanto passava as mãos vagarosamente pelo cobertor novo.
Ele levantou, chegou perto da janela e estendeu as mãos para a moça. Claro, ela não ia tirá-lo de lá,  mas soprou um beijinho e perguntou do que ele mais tinha gostado: dos brinquedos ou dos chocolates?
Ele olhou com ternura para os irmãos adormecidos na única cama, dobrou os bracinhos e, sorrindo, respondeu baixinho:
- O que eu mais gostei é que essa noite ” a gente durmimo” no quentinho.
Quem ensinou esse garotinho que “a gente” é mais importante do que “eu”? Quem colocou tanto amor no seu coração, que preferiu sentir satisfação por terem dormido juntos, “no quentinho“, felizes,  mesmo tendo outros presentes?
Quem?
Helena Beatriz Pacitti
fonte: Pavablog

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